"Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco

Teresa em rutura com a sociedade

    Com 15 anos, Teresa apaixona-se por Simão, com quem namora durante três meses, sem que ninguém saiba, a partir da janela do seu quarto, que confronta com a de Simão. Descoberto o seu amor, este é impedido pelo pai. Apesar de pressionada para se casar com o seu primo, Teresa revela enorme força de carácter que contrasta com a sua debilidade física, resistindo sempre à vontade paterna. Castigada com a ida para um convento, aí acabará por morrer, tuberculosa e desenganada das suas ilusões amorosas.
     Esta personagem apresenta traços românticos ao romper a linha condutora da tradição da sociedade, que consistia na decisão por parte dos pais sobre com quem o seu filho/filha iria casar, o que fez com que Teresa "entrasse" em rutura, tanto com seus pais, como com a sociedade da época.
     Durante os diálogos entre as personagens, são expressados sentimentos que as caracterizam. No diálogo entre Tadeu e Teresa, o pai revolta-se contra a filha, ameaçando-a a ir para um convento, pois esta recusou a proposta do pai, retratando assim o ódio e raiva que o pai sente sobre a filha ( "amaldiçoada sejas para sempre, Teresa! Morrerás num convento!").
O diálogo entre Teresa e Tadeu (seu pai), no capítulo IV, é característico de uma novela romântica, pois Teresa recusa casar com o primo, mantendo-se firme e vai contra a vontade do seu pai, o que leva este a ameaçar a filha para ir para o convento. Na sociedade da época, o casamento era algo decidido pelos pais, não existindo "espaço" para a escolha ou opinião dos filhos. Por isso, Teresa é considerada o indivíduo que vai contra os princípios da sociedade (o seu pai), cortando a linha condutora da tradição.
Tomás Ziobrowski, José Neves

Destinos traçados

 Amor de Perdição é um romance de Camilo Castelo Branco em que a instituição “família” desempenha um papel decisivo. Neste romance, um dos tópicos importantes é o da relação entre pais e filhos.

 Domingos e D. Rita, patriarcas da família Botelho, tinham dois filhos e três filhas. Domingos amava incondicionalmente D. Rita e com medo de a perder concordava com tudo o que esta dizia e queria, mesmo que não lhe agradassem certas situações. Manuel, filho, tinha ciúmes do amor de seu pai por Simão já que este era bastante elogiado pelo mesmo, queixando-se do mau comportamento de Simão ao pai para este descer na sua consideração. Domingos admirava a bravura e inteligência do filho mais novo (Simão) já Rita, por outro lado não gostava das escolhas que Simão fazia, pois ele "gozava" com a herança familiar, desprezando-o principalmente pela troça que ele faz à morte de Caldeirão. As suas irmãs temiam-no, exceto a mais nova das três com quem ele brincava e obedecia.

  À semelhança de Romeu e Julieta, Simão Botelho e Teresa de Albuquerque vivem um amor impossível de ser concretizado por causa da rivalidade de seus pais. O ódio entre as famílias teve origem em uma sentença desfavorável dada pelo corregedor Domingos Botelho, pai de Simão, a Tadeu Albuquerque, pai de Teresa.

 Tanto a família Albuquerque quanto a Botelho são ricas e deram uma educação rígida a Teresa e a Simão, respetivamente. Ambas as famílias querem traçar os destinos dos "amantes", sem preocupação com os desejos dos mesmos. A situação ainda piora pela rivalidade antiga entre as famílias destes.

Em contraste, a família de João da Cruz, composta por ele e sua filha, Mariana, é de origem social bem inferior. Sua relação com a filha é baseada no amor, na harmonia, no trabalho. Mariana não é obrigada a nada pelo pai, ao contrário de Teresa e Simão.

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Rafael Grilo e Bianca Neto

 Destinos Conturbados

 Na última parte do capítulo X da obra “Amor de Perdição” de Camilo Castelo Branco, é-nos apresentada uma situação em que uma das personagens principais está prestes a mudar o seu destino, assim como o dos que o rodeiam. Simão Botelho, apaixonado de Teresa, será quem fará esta mudança na história.

 A natureza envolvente é, de certa forma contrastante com a representação do seu estado de espírito, sendo que toda ela se transforma a uma certa hora e são descritos acontecimentos que demonstram exatamente isto, como o canto dos pássaros ou a cor do céu. Simão, por sua vez, está mais alerta pois espera por algo que sabe que acontecerá muito brevemente. A ligação entre a natureza e as personagens é comum nas obras românticas, visto que ajuda a aperfeiçoar o ambiente da cena e a forma como o autor quer que a visionemos.

 

Simão está, de facto, à espera de Baltasar e de Tadeu que iriam acompanhar Teresa até ao convento, a qual ficou muito incomodada com a presença do primo, já que depois de recusar o casamento com este tantas vezes, o convento deveria ser um refúgio para este assunto.

 

Quando Simão se revela, as personagens já presentes em cena têm diferentes reações. Baltasar mostra o seu descontentamento e origina uma discussão com o amado de Teresa, partindo para um conflito físico e acabando por morrer com um tiro dado pelo seu rival.

 

Seguidamente, aparece João da Cruz, quem está em dívida para com o pai de Simão e oferece-se para assumir o crime. Mas esta não seria uma obra romântica sem o herói que se recusa a virar as costas aos acontecimentos que provocou e a todo o drama e este herói, Simão, acaba por ser preso.

 

Nos próximos capítulos esta personagem é julgada e condenada à morte, final que ainda mudará devido à influência de seu pai. Em relação a Teresa, a sua vida terá continuidade no convento, mas não durará durante muito tempo, assim como a de Simão que morre depois de saber do estado da sua amada.

Ana Carolina Guerreiro, Daniela José, Leonor Moreira

 

Amor fora do comum

 O amor entre Simão e Teresa é um amor difícil, pois a rivalidade entre os pais de ambos não ajuda; o pai de Teresa tinha ódio aos pais de Simão por motivos de litígio. Teresa acabaria por sair prejudicada, sendo obrigada a obedecer e sacrificar-se ao justo azedume do seu pai, tal como podemos ver no capítulo II :"É, pois, evidente que o amor de Teresa, declinando de si o dever de obtemperar e sacrificar-se ao justo azedume do seu pai, era verdadeiro e forte." Simão tinha encontrado o significado do amor, quando se apaixonou pela sua vizinha, menina de 15 anos, rica, bonita e bem-nascida. O amor entre eles não era comum nos relacionamentos:" Da janela de seu quarto é que ela vira pela primeira vez, para amá-la sempre. Não ficara ela incólume da ferida que fizera no coração do vizinho: amou-o também, e com mais seriedade que o usual nos seus anos."

Apresenta-se também nesta parte do excerto que Teresa não era como as meninas da sua idade, pois ela amava verdadeiramente, não sendo apenas um namorico. O aparecimento de Simão e Teresa na vida um do outro, originou mudanças na forma de ser de ambos. Simão estava diferente, agora desprezava as companhias de ralé, saía de casa raras vezes, em casa encerrava-se no seu quarto, e saía quando o chamavam para a mesa.

O narrador neste excerto acaba por ter um papel importante, apresentando a sua opinião em relação ao tema" amor" conseguindo atingir a semelhança da nossa opinião em relação ao tema.

Mariana Ferreira, Ana Filipa e Karolina Donut

"Frei Luís de Sousa", de Almeida Garrett

 

A dimensão trágica de uma família do século XVI

  O tema escolhido pelo nosso grupo para representar a obra de Almeida Garrett “Frei Luís de Sousa” foi a tragicidade. Este tema é protagonizado em diferentes aspetos. Madalena começa no primeiro ato por demonstrar os seus medos e receios em relação ao facto do seu falecido marido, D. João, regressar, pois o mesmo desapareceu na batalha de Aljubarrota juntamente com o Rei D. Sebastião. Madalena acaba por mostrar os seus medos, pois se o mesmo voltasse iria ser uma destruição da felicidade do seu segundo casamento e da sua vida familiar atual.
  Para além disto o tema da tragicidade acaba por afetar mais Maria, porque a mesma nasceu depois dos antecedentes da ação que levaram ao desfecho final trágico. Maria vai provocando inocentemente a sua desgraça, pois deseja que D. Sebastião regresse e por consequência D. João também voltará com ele. 
  Maria e Manuel de Sousa Coutinho foram numa viagem a Lisboa numa sexta-feira, Madalena tenta impedi-los, pois sexta-feira é um dia muito trágico para a mesma, pois foi nesse dia que Madalena casou pela primeira vez com D. João, faz também anos que se perdeu D. Sebastião, e também no mesmo dia que viu pela primeira vez Manuel de Sousa Coutinho.
  Podemos comprovar a tragicidade presente nesta obra com várias falas das personagens, começando (no primeiro ato, cena XI) com Manuel de Sousa Coutinho a atear fogo à sua própria casa dizendo “Quem sabe se eu morrerei nas chamas ateadas por minhas mãos?”. Madalena também o demonstra (no ato segundo, cena VIII) quando mostra os seus medos dizendo “Tenho este medo, este horror de ficar só…de vir-me a achar só no mundo.” e “depois de tantos anos de amor…e convivência…condenarem-se a morrer longe um do outro.”, também diz (no segundo ato, cena IX) “parece que o coração lhes adivinha a desgraça”. Mais tarde Manuel de Sousa Coutinho (no ato terceiro, cena I) confirma quando o mesmo diz “Desgraçada filha, que ficas órfã!... órfã de pai e de mãe…e de família e de nome, que tudo perdeste”. No final desta obra (no terceiro ato, cena XI) Maria demonstra a tragicidade através das seguintes falas “mate-me, se quer, mas deixe-me este pai, esta mãe, que são meus”, “Essa filha é do crime e do pecado!...”, e mais tarde (na cena XII) Minha mãe, meu pai, cobri-me bem estas faces, que morra de vergonha…”.
  Ofélia Paiva Monteiro é uma especialista da obre e fala sobre a tragicidade da mesma, podemos comprová-lo com citações [1] onde a mesma diz “ A ação consiste na destruição de uma família virtuosa, atingida por problemas que lhe são próprios… no final do século XVI … criação de um clima ominoso que vai crescendo em tensão até à catástrofe. No ato I, conhecemos as inquietações e os pressentimentos que agitam não só a vibrátil Madalena, mas também a jovem filha de ambos- a frágil e fantasiosa Maria (…) no final desse ato, o incêndio que Manuel lançou ao seu palácio (…) e a perda nas chamas do seu retrato são fatídicos sinais de desgraça (…) com a chegada do Romeiro que traz novas de cativos, atingindo-se o «clímax» quando ele se identifica como D. João (…) no ato III, as mortes «injustas» de inocentes (…) Manuel de Sousa Coutinho e sua mulher, espécie de suicídio, e o falecimento, por dor e vergonha de Maria.

Beatriz Cardoso, Karolina Dunets, Mariana Ferreira


[1] Retiradas da “Enciclopédia verbos das Leituras"

 

 

Amor à pátria, de uma pátria sem amor

  Manuel de Sousa Coutinho define-se pela nobreza, pelo amor à partia e pelos valores nacionais, respeitando bastante o passado e a sua herança. É um homem culto e de honra cavalheiresca, caracterizado pela sua nobreza e generosidade perante os outros, pelo desamor ao materialismo descrito mencionado na obra "Frei Luís de Sousa", no Ato I, cena XII: "Iluminou a minha casa para receber os muito poderosos e excelentes governadores destes reinos". Aqui é possível observar Manuel de Sousa Coutinho como um homem de ação perante os valores nacionais, pois este opta por incendiar a própria casa a ser humilhado por falta de nacionalismo, ao dar a sua casa à coroa espanhola.
Na o
bra, é possível observar a sensibilidade perante a esposa, a ternura com a filha e a amizade é a relação para com Telmo. Para isto comprovar, é possível ver no Ato I, cena VIII: "Eu estimei e respeitei sempre D. João de Portugal, honrosa a sua memória, por ti, por ele e por mim". Vemos nesta citação o respeito de D. Manuel pelas heranças do passado, mais concretamente, o passado onde D. João viveu.
  Com as suas ações, Manuel revela  atos de patriotismo e heroísmo, sendo a personagem com mais "amor à pátria" nesta obra.

Emídio Oliveira, Tomás Ziobrowski

Ausência ou Presença? 

 

Nesta obra, Maria é a personagem que mais se insere no tema do Sebastianismo, sendo que é crente na lenda do rei e faz perguntas sobre este frequentemente, o qual podemos confirmar na Cena III do Ato I: 
"Maria - … é o da ilha encoberta onde está el-rei D. Sebastião, que não morreu; não é assim, minha mãe?" (Fonte: 1) 
Ela é, de certa forma, a voz do povo, visto que este também é crente na lenda. 
Ato I, Cena III 
"Maria - Voz do povo, voz de Deus, minha senhora mãe: eles que andam tão crentes nisto, alguma coisa há de ser."(Fonte: 1) 
Madalena, mãe de Maria, não apoia estas ideias, sendo que está relacionado com o desaparecimento de D. João, o seu antigo marido, o qual também desapareceu em batalha. Isto significa que se D. Sebastião reaparecesse, D. João também o poderia fazer, fazendo com que o casamento de Madalena com D. Manuel se tornasse "ilegal", assim como Maria. 
"Já que se D. Sebastião voltasse causaria a vergonha para a família de D. Madalena e a morte de Maria."; "Já que Maria era o resultado de adulteração (…)" 

CONCEIÇÃO, Jacinto; LANÇO, Gabriela; Coleção Estudar Português - Frei Luís de Sousa; Almeida Garrett; Porto Editora. 

Madalena tenta fazer Maria esquecer-se destes assuntos, sem dizer porquê, já que ela não sabe de nada. 
Ato I, Cena III 
"Madalena – Minha querida filha, tu dizes coisas! (…) O povo, coitado, imagina essas quimeras para se consolar na desgraça." (Fonte: 1) 
"Madalena – Minha querida Maria, tu hás de estar sempre a imaginar nessas coisas que são tão pouco para a tua idade!". 
Outra personagem, Telmo, é quem alimenta as ideias de Maria e D. Madalena não aprova. 
Ato I, Cena II 
"Madalena – Valha-me Deus, Telmo! Conheço que desarrazoais, contudo as vossas palavras metem-me um medo... Não me façais mais desgraçada." (Fonte: 1) 
Mesmo assim, o assunto de D. Sebastião é falado mais algumas vezes.  
Ato II, Cena I 
“Maria - ... Não te lembras o que lá diz do nosso rei D. Sebastião?...” 
“Maria – Olha (designando o de el-rei D. Sebastião) aquele do meio, bem sabes se o conhecerei: é o do meu querido e amado rei D.Sebastião.” (Fonte 1) 
Assim como o de D. João: 
Ato II, Cena III 
“Maria – E lá ficou naquela fatal batalha!... 
Manuel – Ficou. Tens muita pena, Maria? 
Maria – Tenho 
Manuel – Mas se ele vivesse... não existias tu agora, não te tinha eu aqui nos meus braços.” (Fonte: 1) 
Neste momento, D. Manuel refere-se à ilegitimidade do nascimento de Maria se D. João aparecesse.  
Nesta obra, este será um dos temas mais importantes, uma vez que este está ligado, de certa forma, a quase todas as personagens e é a causa de destruição da família. 
O assunto do Sebastianismo ainda hoje é falado e sempre fará parte da história de Portugal, representando o lado trágico desta.  
“Como Eduardo Lourenço demonstrou, a propósito de Frei Luís De Sousa, <<Garrett escreveu uma obra política>>, <<fantomática>>, tendo por assunto a <<existência>> anómala de Portugal, país sem presente. À luz desta leitura, a presença muda de D. Sebastião, cujo retrato, recorde-se, está colocado ao lado do de D. Joao de Portugal, transforma-se na metáfora vazia do próprio país, que assiste impotente à sua própria tragédia.” 

Teresa Almeida, “D.Sebastião”(Na Literatura Romântica Portuguesa)”, in Helena Carvalhão Buescu (coord.), Dicionário do romantismo literário português, Lisboa, Caminho, 1997, p.532 (texto adaptado) 

 

Ana Filipa Guerreiro, Catarina Correia, Daniela José, José Neves

Obscuro Amor

     Vários são os temas presentes na obra “ Frei Luís de Sousa “, de Almeida Garrett. Dentre toda a tragédia e mistério encontra-se o amor, a trágica e avassaladora paixão entre D. Manuel e D. Madalena. 
      Este enredo mostra-nos uma amarga história de amor entre estes dois nobres, aqui o amor apresenta-se como algo que cega, que impossibilita a felicidade entre ambos bastante percetível na primeira cena (“ Oh! Que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo … e este medo, estes contínuos terrores que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o meu amor. – Oh! Que amor, que felicidade … que desgraça a minha!”).
      “ D. Madalena é aqui a pecadora”, segundo afirma João Daniel Marques Mendes. Este pecado deve-se ao amor à primeira vista que esta sentiu sob D. Manuel enquanto ainda era casada com D. João I (“ Começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi “ (…) “ D. João de Portugal ainda era vivo.  O pecado estava-me no coração . “ – ato segundo , cena X ) , chegando mesmo a desejar secretamente a morte de seu primeiro marido quando este rumou àquela que viria a ser a trágica batalha de Alcácer Quibir ( “ Permitiu Deus … quem sabe para me tentar ?... que naquela funesta batalha em Alcácer , entre tantos , ficasse também D. João . “ – ato segundo , cena X ) .
      Após a suposta morte de seu marido, D. Madalena, agora viúva, encontrava a “liberdade” para viver o seu amor com D. Manuel. Deste casamento nasceu Maria, fruto de um pecado que poderia vir a ser a sua desonra e desgraça (“bastaria para enodoar a pureza daquela inocente, para condenar a eterna desonra a mãe e a filha!“, “ A morte era certa! “ – ato primeiro, cena II). 
      A descoberta de que D. João está afinal vivo reforça a dramática ideia de que este amor é totalmente impossível, Maria é agora fruto de adultério, filha órfã de pai e mãe. O sentimentalismo é claramente ligado a D. Madalena, e, para ela, é inaceitável que o sentimento do amor de Deus possa conduzir-lhe ao sacrifício do amor humano, mostrando-se relutante aquando a cerimónia, seguindo apenas com a certeza de que D. Manuel teria ido (“ Ouve, espera; uma só, uma só palavra, Manuel de Sousa!...” “ Ele foi?” “ E eu vou “ – ato terceiro, cena IX).
      O amor representa aqui um importante papel, visto que todo o drama, mistério e até mesmo sofrimento, se desenrolam através deste pesaroso amor, terminando tragicamente com a morte de sua filha, seu fruto, a prova de seu amor (“ morro, morro … de vergonha … “ – ultima cena).

Dora Bilhó e Carolina Guerreiro Martins

 Família
Na obra "Frei Luís de Sousa", o tema da família tem uma importância grande ao longo de toda a historia. Esta, que pertence à nobreza, é representada como um triângulo, em que Manuel de Sousa Coutinho, o pai e marido, Madalena de Vilhena, a mãe e mulher, e Maria de Noronha, a filha, se amam muito. Contudo, outra personagem, Telmo Pais, antigo escudeiro de D. João de Portugal, possui uma ligação forte com esta família, sobretudo com Maria.
Na cena I do ato primeiro, D. Madalena mostra que ama verdadeiramente a sua família: "(…) deve de ser a felicidade suprema neste mundo (…)", "Oh que amor, que felicidade...(…)".
A relação forte entre Maria e a sua mãe Madalena, é apresentada na cena III do ato primeiro. Maria conforta a fragilidade da sua mãe abraçando-a: "Então, minha mãe, então! - Veem, veem?...(…). Minha querida mãe".
Na cena seguinte, vemos o mesmo amor, porém dito de Madalena a Maria: "Tens filha... (…) hás de viver muitos anos para a consolação e amparo de teus pais que tanto te querem."
Já depois de ter incendiado a própria casa na cena V, vemos o amor do herói patriota, Manuel de Sousa Coutinho, pela esposa após dizer que tem que ir a Lisboa: "Não, sossega, não: estou aqui ao anoitecer. E nunca mais saio de ao pé de ti. E não serão quinze dias, vinte, os que tu quiseres."
Com base em citações de textos escritos por Ofélia Paiva Monteiro, da "Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa", volume 2, o tema da família é apresentado seguidamente: " No ato I conhecemos as inquietações e os pressentimentos que agitam não só a vibrátil Madalena, esposa de Manuel de Sousa Coutinho, mas também a jovem filha de ambos – a frágil e fantasiosa Maria – E o velho aio Telmo, que Criara D. João de Portugal (primeiro marido de Madalena, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir vinte e um anos antes) e depois aquela criança que tanto ama e com quem fala sobre a perdida grandeza da Nação.
Também no livro "Introdução à leitura de Frei Luís de Sousa", de João Daniel Marques Mendes, as seguintes citações mostram o amor pela família sentido por cada personagem: no excerto de D. Madalena de Vilhena: " (…) a propósito das circunstâncias do nascimento de Maria(…)" , "(…) amar Manuel (…)" e "(…) os que ela ama e os que a amam(…) "; No excerto de Telmo Pais: "(…) elo de ligação entre duas famílias (…)" e "(…) aio de Maria (…)"; E, no texto de Manuel de Sousa Coutinho: "(…) nos dons de sensibilidade e de coração para com a esposa, de ternura para com a filha, de amizade para com Telmo. (…)".

Iris Nabais, Marcos Fernandes, Guilherme Batista

 

D. Madalena e D, Manuel

 

D. Madalena e D. Manuel eram um casal que se amava muito e esse amor deu origem a uma filha, Maria de Noronha. O casal era muito próximo no amor, porém aparentava personalidades completamente distintas.
No primeiro ato, na cena VIII encontramos D. Madalena e D. Manuel num diálogo onde D. Manuel dá valor aos sentimentos da sua mulher e mostra ser racional/respeitador ao compreender os seus receios; também podemos encontrar no mesmo ato D. Manuel a ser generoso, dizendo que o passado de D. Madalena não lhe pertencia e portanto não lhe interessava, nem o fazia ficar ciumento. Na cena IX D. Manuel mostra ser bastante atento ao que se passa ao seu redor dizendo a Telmo que os governadores o queriam enganar porém não conseguiram pois não o apanharam desatento da situação. Na cena X Manuel de Sousa sendo o cavalheiro que é ordena que as damas presentes na ação partam e que Telmo as acompanhe para que não estejam presentes na altura em que os seus inimigos chegarem . Na cena XI, última cena que lemos, está claro que Manuel era um nacionalista determinado dizendo ser um homem de honra e resistente por maior que seja o obstáculo que apareça no seu caminho.

Ao contrário do seu marido Madalena mostra ser irracional na cena VIII não querendo perceber o lado do seu companheiro tal como mostra ser sensível, pouco corajosa e uma pessoa com pouca atitude.
Do ponto de vista do especialista João Daniel Marques Mendes, D. Madalena retrata a figura típica de uma mulher forte, rica, forte no amor, nas suas paixões porém fraca perante os agouros, os presságios… Madalena era uma rainha terna, lutadora até ao fim pela felicidade, mas pecadora (especialmente a propósito das circunstâncias do nascimento da filha); Já Manuel de Sousa Coutinho era visto pelo especialista como um homem nobre, inteligente e culto. Caracterizava-se pela sua sensibilidade para com a esposa, de ternura para com Maria de Noronha e de amizade para com Telmo. Enfrentava as desgraças com coerência e dignidade tornando-o assim um homem de “garra”.

Leonor Moreira, Ana Carolina Guerreiro, Carolina Gomes

 

Sentimentos Amargos de Vilhena

O sentimentalismo, uma temática presente em “Frei Luís de Sousa” é melhor transmitida por D. Madalena de Vilhena porque os seus sentimentos e sensibilidade se sobrepõem à razão, esta sendo mulher de D. Manuel de Sousa Coutinho e viúva do suposto falecido D. João de Portugal. É uma sofredora, tem um amor intenso e uma preocupação constante com a filha Maria, contudo coloca acima de tudo a sua felicidade e a amor por D. Manuel de Sousa, até mesmo o seu amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel.
Amando a sua filha e o seu marido, ela vive na angústia que um dia o mito do sebastianismo se torne real tornando ilegítimo assim o seu casamento e envergonhado a sua família, mas principalmente sua filha, uma vez que confessa que amou D. Manuel ainda em vida do seu primeiro marido.
Assim, “a contradição entre a felicidade aparente e a desgraça íntima revela uma consciência moral atormentada pela imagem sempre obsessivamente presente de D. João de Portugal, mordida pelo remorso proveniente da consciência do pecado” – citando João Daniel Marques Mendes, este menciona também que “as reticências (ato I, cenas 1 e 2) são uma fenda, uma abertura pela qual os espectadores observam o seu intimo conflito de consciência.”

 Rafael Grilo, Bianca Neto